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‘Substituição da Pessoa pela Imagem’


Hoje, sempre que seguro numa máquina fotográfica, ou um aparelho que capture imagens, questiono a sua real utilidade e o meu grau de necessidade em relação a este objeto.
É fácil de usar e tem todo um corpo apelativo, bem como todas as tecnologias. Está a inovar cada vez mais, a uma velocidade estonteante, de forma a melhorar a imagem e tentar registar a realidade tal como é, ao ponto de já não ser uma realidade, mas sim uma ideologia. Para quê?
Para não ser preciso memória? Não ser preciso pensar mais de dois minutos, os dois minutos que levo a abrir uma foto e a recordar muito do que se passou nesse dia?
A memória revela a identidade individual, construída socialmente. A partir do que aprendemos, de geração em geração, vou recolhendo toda a informação, ideologias e gostos que formam a minha personalidade. O facto de existir o fenómeno da aceleração, neste caso, relativamente às tecnologias, prejudica-me - prejudica-nos, - ao ponto de nos deixar sem uma resposta, sem conhecer todo o presente, que agora é tão volátil.
A memória surge de sentimentos semelhantes que vou repetindo aos longos dos tempos, com um objeto que captura imagens, que grava o que vejo no momento, sinto que não preciso de ser espontânea, nem sequer emotiva e muito menos o esforço de recordar o que outrora foi importante e me marcou. Não preciso de ter qualquer sentimento, de novo, basta rever uma fotografia e quase que automaticamente me lembro de tudo, quase como se estivesse num outro plano, a ver de fora o que se passou comigo.

Hoje, o que penso, é que com a constante inovação de significados e disposição de novos simbólicos não temos outra hipótese de memorizar tanto como gostaríamos, o que nos leva por caminhos mais fáceis que simplificam a reprodução mental de situações da nossa vida. No entanto, com esta facilidade perdemos muito da nossa identidade individual, não só por não treinarmos a memória, mas também porque por detrás de um objeto útil e ao mesmo tempo que segue a moda, analogamente à sua aparência, encontramo-nos no caminho do consumismo, constante e desnecessário.


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