"As mulheres de hoje estão destronando o mito da feminilidade; começam por afirmar concretamente sua independência; (...)." (Pág. 7, Beauvoir)
O conceito "mulher" é algo que veio sendo modificado conforme as mudanças ocorridas nas várias sociedades ao longo da história da humanidade. Nos últimos anos, o conceito "mulher" atingiu um significado que se deve a um movimento social, filosófico e político designado por "feminismo". Este movimento, que teve início no século XIX devido à revolta provocada pela divergência entre a escravatura e a proclamação dos Direitos Humanos, tem como objetivo encontrar um equilíbrio na sociedade que permita a igualdade entre os sexos. Esse movimento permitiu ao sexo feminino obter direitos que até então lhe eram vedados, obtendo, desse modo, uma independência, até então não conseguida, em relação ao sexo masculino. Esta independência originou alterações no conceito "mulher". Ser mulher, na atual sociedade europeia, permite à fêmea humana, além de permanecer com o papel de ser maternal e posição exemplar na casa e família, obter um papel de profissional.
"Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, económico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino. Somente a meditação de outrem pode construir um indivíduo como um Outro." (Pág. 9, Beauvoir) A mudança que ocorre na definição do conceito "mulher" permite entender que, tal como Simone Beauvoir esclarece, não se nasce mulher, isto significa que não nascemos formados com o conjunto de fatores elaborados pela civilização, apenas nascemos com um órgão sexual reprodutor e outras características biológicas que irão definir qual será a formação que será aplicado pelos progenitores. Assim sendo, a forma como a fêmea humana se apresenta varia conforme o conceito de "mulher" dentro de cada sociedade e o mesmo sucede com o macho humano e a sua forma de se apresentar na mesma sociedade.
Perante esta explicação resumida do ser "mulher" segundo Simone Beauvoir, apresento uma situação bastante comum, tanto para elas como eles. Há cerca de duas semanas, durante um almoço, num lugar habitual, observei uma situação algo desconfortável. No momento em que esperava na fila para escolher a refeição e efetuar o pagamento, estava um grupo de jovens, com idades que aparentavam situar-se entre os 12 e os 14 anos, onde dois jovens de sexos opostos brincavam entre si. A situação é bastante natural, numa idade de descoberta a procura e provocação entre sexos opostos é algo à qual não se escapa, porém, assim que atinjo o balcão, a rapariga magoou o rapaz e este, como que em defesa, afasta a adolescente de um modo mais brusco do que seria natural. Nesse momento, tudo parou e as funcionárias que estavam no balcão lançaram-se diretas ao rapaz a repreendê-lo por ter "agredido" a pobre rapariga. Enquanto isso, eu observava a rapariga que em nada semostrava arrependida, pelo contrário, gozava com a situação como se o intuito dela fosse provocar todo aquele desconforto ao outro jovem.
Dias depois vi uma situação semelhante, com a diferença de não serem mais jovens mas sim adultos conscientes dos seus atos. Mais uma vez, a figura feminina agredia a figura masculina e este ao se defender fora atacado verbalmente pela maioria das pessoas que viajavam na mesma carruagem de metro.
Após vivenciar estas duas situações, dei por mim a pensar sobre o assunto e a lembrar as sábias palavras de Simone, "Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.". Depois de muito relembrar, apercebi-me de que sempre me haviam ensinado que quando me sentisse incomodada, tanto por me sentir abusada ou magoada, por um rapaz, a melhor solução era "um bom estalo na cara para aprender", mas, em simultâneo, sempre ouvir dizer aos rapazes que nunca, em ocasião alguma, deveriam bater, fosse como fosse ou por que razão fosse, numa rapariga.
Após vivenciar estas duas situações, dei por mim a pensar sobre o assunto e a lembrar as sábias palavras de Simone, "Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.". Depois de muito relembrar, apercebi-me de que sempre me haviam ensinado que quando me sentisse incomodada, tanto por me sentir abusada ou magoada, por um rapaz, a melhor solução era "um bom estalo na cara para aprender", mas, em simultâneo, sempre ouvir dizer aos rapazes que nunca, em ocasião alguma, deveriam bater, fosse como fosse ou por que razão fosse, numa rapariga.
Nesse momento, comecei a questionar-me se esse ensinamento padrão seria correto e se, de certo modo, não contradizia os princípios básicos do feminismo, que haviam originado o atual conceito de "mulher", segundo o qual seriam formadas as fêmeas humanas. Afinal o feminismo não é igualdade entre os sexos? Então porquê violentar o sexo oposto? Isso não será uma forma de incentivar a violência de ambos os lados? Que princípio é este que protege um sexo e oprime outro?
A verdade é que concordo com a igualdade entre os sexos, tendo sempre em conta a questão de haver impossibilidades para cada um dos sexos e aptidões características de cada um, porém à medida que me vou envolvendo nessas discussões, percebo que o conceito de igualdade, designado por feminismo, tem vindo a tornar-se um movimento que em nada apoia a igualdade, mas sim a sobreposição do sexo feminino em relação ao masculino. Não afirmo que não exista quem realmente defenda a igualdade entre sexos, mas sim que existem muitos que apoiam o feminismo, como oposição ao machismo, e esse retrocesso reflete-se na educação e no conceito de “ser mulher”.
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