Faça-se uma
breve reflexão sobre a estrutura com que Saussure definiu a língua, essa separação
entre significante e significado. Certamente que se mostrou fundamental na
linguística, mas repare-se que é mais abrangente que isso. Essa polarização
entre material e ideológico é da maior recorrência no mundo humano. A partir do
momento em que a ideologia está para o homem como a água está para o peixe,
tudo aquilo com que o homem se relaciona goza dessa mesma estrutura. Exemplo óbvio é
a roupa que usamos, sempre ligada a ideias e mensagens, ou mesmo o sítio onde vivemos pode levar a que se delineie uma personalidade-tipo das pessoas que habitam certa zona. Até a própria vida humana. Era
Agostinho da Silva quem falava nos “pés bem assentes na Terra e a cabeça lá no
alto”. No fundo, aconselhava uma conduta de sentido prático na vida, fazer o
que fosse necessário fazer para viver para que se pudesse, então, sonhar. Esta estruturação
é fundamental no ser humano. Dizia-se na Grécia Antiga que o homem, na sua
condição, se situava entre a ignorância e a sabedoria, entre o animal e Deus. Trata-se
sempre de um fosso entre o material e o ideal, que anseia por desaparecer. E
para isso lá está o homem, elemento de conexão.
Andrei
Tarkovsky falava da arte como via de acesso à verdade. Esta parece-me uma ideia
interessante, na medida em que nos faz pensar num mundo da verdade, disfarçado
por representações, pronto a ser acedido, e, de outro lado, um mundo quotidiano,
onde a verdade não se mostra. Seria, então, por exemplo, através dos ícones, como os novos de
Tarkovsky, que teríamos acesso a ela, ou através dos livros de Platão, ou mesmo das peças de Bach. Mas surge, sempre, o homem e sua obra como caminho
de ligação. Será essa a natureza do humano? Homens e mulheres que nascem para
unir. Tenderemos para um?
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